Esse negócio de dia dos pais
deixa a gente um tanto quanto pensadores. Lá vamos nós, filhos, comprar o presente
sem saber direito o que dar, com medo de irritar o cara – sim, porque as mães
sabem fingir bem quando ganham mais um porta-retratos florido. Na fila do
caixa, que geralmente dura a eternidade de um jogo ruim de futebol, nós
pensamos em mais coisas além de em quantas prestações parcelar a camisa.
E no meio dos devaneios, o dom da
vidência. “Quando chegar a minha vez, eu vou querer o melhor dos presentes, pra
compensar o tempo que passei em filas como essas de hoje!”. Justo. Aliás, mais do que isso, é justo que eu
queira ganhar muitos presentes, de aniversário, de natal, até mesmo de Páscoa.
Vou trabalhar tanto, esse vai ser o mínimo.
Só que pensando mais um pouco, eu
entendo porque eu penso assim. Afinal, somos o espelho de quem nos cria. Fico imaginando que eu vou querer, depois de
tanta labuta, o reconhecimento dos meus filhos, de quem eu sei que vou cobrar
as melhores notas, os melhores valores, os melhores abraços. E, na boa, nem
precisa ser um presente caro, sofisticado.
Bons presentes são momentos,
ensinamentos. Quem me levou à escola pela primeira vez? Foi ele. Quem me levou
ao estádio, e me deu a primeira camisa do meu time do coração? Foi ele. Quem me
deu a primeira bicicleta? Foi ele. Quem me levou à primeira festa? Não, não foi
ele, mas a surra que levei depois do primeiro porre sim.
São esses presentes, são essas
lembranças, que eu quero ganhar daqui a alguns anos, quando for a minha vez. E
não vai demorar. Eu quero chegar nos segundos sábados de agosto todo ano com as
compras do almoço feitas, botar a cerveja pra gelar e dormir ensaiando a cara
de surpresa do dia seguinte com os moleques me entregando as camisas e os pares
de meia. A surpresa pode até ser um
pouco forçada, mas a alegria é genuína, com certeza. No final das contas,
nenhum presente sai tão caro.