Terça-feira, o dia mais insignificante da semana. Não é estressante quanto a segunda, e ainda está distante demais da sexta. Não tem futebol na TV, nem uma balada legal. A terça-feira tem o pior defeito que um dia pode ter: é comum. Por isso, acordar é tão desmotivador. É como se aquele dia não valesse, não contasse na sua vida, mas você fosse obrigado a passar por ele. Toda semana. Lá fui eu, despertar do meu injusto sono dos justos. Levantei, escovei os dentes, fui à cozinha, e encontrei um rádio. Resolvi ligar. Por quê?
Não sei a estação, nem gosto
muito desse veículo. Pra mim, o que não começa com “www” não interessa muito. O
fato é que eu liguei aquele rádio, e estava tocando, para o meu azar, aquela
música. Que clichê dizer isso, mas era a nossa música. Brega, mas nossa. Um
momento marcante nas nossas vidas nunca tem uma canção realmente boa de BG.
Eu ouvi a nossa música, e
lembrei, claro, de você. Mas de você naquela tarde, na casa da Rita. Era essa
música que tocava quando eu te vi entrando naquela sala, coradinha de sol, com
a marca do biquíni verde que te cobria o que tinhas de mais interessante. Sorte
do sol.
Naquele dia, à noite, a gente
ficou pela primeira vez. Essa música não tocou, ou tocou e eu nem percebi. Seus
lábios eram bem mais interessantes. Então, eu comecei a passear no nosso
passado, enquanto o café esfriava. Depois daquele beijo, a gente ainda se viu
mais umas sete ou oito vezes, até admitirmos que era a hora de assumir que
estávamos juntos. Éramos um casal.
Essa bendita música... Lembrei de
quando nós assumimos o namoro. Alguns torceram o bico, mas a gente até achava
legal. Nunca havia namorado, e já estreava nessa vida com uma mulher
deliciosamente linda feito você. Meus 17 anos não poderiam ser mais animados.
Que se dane o vestibular! Eu queria era viver você, aquelas noites em que a
gente se pegava escondido embaixo da escada do colégio, aqueles dias em que
você ainda me mandava cartas. Seu jeito clássico de ser.
Droga, lembrei das cartas! E
daquela carta... Aquela, a última. Aquela, que me enganou direitinho. Você. Nem
foram seis meses, estava tudo tão bem, como se algum desses deuses que vocês
veneram estivesse armando contra mim. Só não precisava ser no meu aniversário,
cassete! Meus amigos, colegas, inimigos, professores do primário, até mesmo
meus pais, todos na minha festa.
Todos, menos você. Te ligava, e
nada. Implorava sua presença, em pensamento, mas nada. Nem brigamos.
Brigaríamos depois, depois que eu li as palavras de despedida que você me
escreveu, e deixou no vão da porta. Seu maldito jeito clássico de ser.
Clássico? Que clássico? Descobrir
pelo Facebook, dois meses depois, que você já tinha outro não me soou vintage, retrô. Como aquela música...
Desliguei o maldito do rádio. Percebi três coisas. Primeiro, eu nunca mais
quero saber de você passeando pelos aparelhos de som da minha vida. A segunda
era que eu estava atrasado pra prova. E a terceira, mais importante, era de que
eu deixei queimar as torradas.
IMAGEM: http://files.urucaramazonas.webnode.com.pt/200000296-3805438ff5/radio.jpg
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