É sábado, o dia oficial do
“foda-se o mundo, que eu quero me divertir”. A noite em que cada um vai atrás
de ar, depois de uma semana recheada de chefes escrotos, professores que pensam
que você é robô, namoradas choronas e família que te cobra o mundo. É a noite
onde cada gota de álcool é benta, perdoada pelo Papa e por qualquer outra
santidade, a não ser as mais puritanas. Quem é puro em um sábado à noite?
A corrida pela mesa, aquela em
que caibam todos os seus amigos e suas respectivas vontades de viver
intensamente aquela noite. A corrida pelo garçom, que pira tentando matar a
sede e a fome de tantos outros jovens como nós, desejando como nós, se
divertindo como nós. O lugar tá cheio, a música é boa, e as companhias fazem
valer cada minuto. Mas a noite ainda não começou. Não enquanto o teor alcoólico
for zero.
Peço o cardápio, mas nem ligo
pros pratos. Os copos me apetecem mais. Eis que vejo ela, minha linda, meu
amor. Levanto e vou ao balcão, e obviamente não vou só. A galera da gelada fica
na mesa, e eu guio uns cinco ou seis até a primeira tequila da noite. Apenas a
primeira. Arriba, abajo, al centro e
adentro! Não gosto de limão, mas nem ligo. Se o mundo começa a rodar? Ainda
não. Na próxima, com certeza.
O sal nem faz diferença, é mais
cabalístico, mítico, ritual. Com a segunda em mãos, ainda consigo enxergar meus
amigos. O riso vem fácil, e a voz começa a ficar mais alta. Não só a voz. É
como se ali, aos poucos, a gente começasse a se libertar do sufoco de toda
segunda, terça, quarta... É como se ali, quase na terceira, a raiva que
guardamos daquele patrão filho da mãe fosse canalizado em interjeições de
alegria, gritadas cada vez mais fortes, mais eloquentes. UHU!
Voltar à mesa? Difícil. A galera
continua lá, rindo, e interagindo com a gente, mesmo um pouco longe. Estamos
bem longe na verdade. A mão cheira à limonada, e a garrafa já está quase no
fim. Que se dane! Hoje é sábado, dia oficial do “foda-se alguma coisa”,
esqueci. Se esqueci, to bem demais. Era isso o que eu queria. A cabeça gira,
mas as lembranças da semana desgraçada que tive já foram. Desce a quarta.
Desce, ou sobe, sei lá, não importa. Bora beber mais essa!
Incrível como eu sou expansivo.
Olha eu, fazendo amizades na beira do bar, com quem nunca vi. Mas de ti eu
lembro, és a menina comportadinha da turma, que mal fala e agora tá quase
tirando a blusa. Que delícia, hein! Queria que todas aquelas gostosas do
estágio fossem assim, mas sem tequila. São umas entojadas, insuportáveis,
chatas pra cassete. Vem cá, Cris. Cris? Opa, foi mal. Vem, Dani! Mas não vale
vomitar em mim, que o dia é meu de botar toda coisa ruim pra fora.
Ei, garçom, traz mais uma, porra!
Tem gente aqui que não se garantiu e voltou pra mesa. Fracos! Fracos pra
caralho! Tô nem aí, eu quero mais uma. Arriba! Abajo! Arrajo! [...] Caralho!
Essa foi foda! Quase não volto, doido. Ei, EI, VEM AQUI, PORRA! Vem que ainda
tem uma garrafa inteira pra gente, porra. Sacanagem de vocês. Hoje é sábado,
merda.
Quer saber? Eu vou aí pra essa
mesa, rir dessa vidinha patética de vocês. Se eu dormir, é porque vocês são
muito chatos, cara. Me levem pra casa, mas só me acordem na terça. Odeio as
segundas.
IMAGEM: http://3.bp.blogspot.com/-BOGbFISJ5kM/Tp9-6QgwFUI/AAAAAAAAAM8/qwjHQNbKzLU/s1600/porre.jpg
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