Cinco da tarde. Quinta-feira.
Avenida Castelo Branco. Trânsito lento, complicado, um emaranhado de carros,
ônibus e impaciência. Todas as criações resolveram se encontrar na mesma faixa
de terra. Inclusive o sol morno, que cozinha o belenense, todo fim de tarde. De
repente, lá longe, ouve-se uma sirene. Ela fica mais forte, eloqüente. Ali
dentro, alguém precisando de tempo e de espaço, que dependem um do outro.
Se não criar asas, a ambulância
não passa. Mas, de repente, a buzina do motorista do ônibus ao lado começa a
ecoar mais forte ainda, e ele manobra sua máquina para o lado. Os companheiros
de asfalto entendem a mensagem e, em segundos, abrem o mar negro da avenida e
deixam a ambulância singrar o caminho rumo a uma possível salvação. Ali, na
coreografia de veículos, como que ensaiada, uma vida pode ter ganhado uma
segunda chance.
Não quero apenas contar mais um
pequeno excerto do meu cotidiano, e sim enxergar o que aqueles motoristas
fizeram. Algo tão simples, que faz pensar se ainda temos cura. Nós, sociedade
fria, do “eu, eu mesmo e mais ninguém”, uma raça egoísta, auto-suficiente.
Pior! Uma raça burra, porque não há homem nesse mundo que consiga viver sem uma
mão estendida.
Mas até que ponto estender as
mãos é apenas bondade? Tudo o que fazemos tem um interesse como gasolina da
máquina. A questão é saber quais são eles, e se esse combustível não é
adulterado, com ganância, falsidade, desejo de vingança, etc, etc, etc...
É tão fácil encontrarmos por aí
pessoas movidas a dinheiro, poder, jóias, agrados, que não fazem além daquilo
pelo qual elas recebem. Estanques, não se movem para ajudar alguém, se não há
cifrões brilhando sobre suas cabeças. Querem mais, querem mais, e até
conseguem. Porém, suas vidas devem parar por aí. Vai saber! Quantos desses abririam
espaço para aquela ambulância passar, se atrás não vinha um carro forte,
pagando um cachê pelo serviço prestado?
Era apenas solidariedade. Apenas
isso. Dar sem receber, ajudar, abrir caminho, sem precisar ver os olhos de quem
passou por ele. Apenas isso. Filantropia? Conversa fiada? Raridade? Pode ser,
pode não. Mas quantas vidas poderiam ter uma segunda chance, ou terceira, ou
quarta, se mais motoristas como aqueles da Castelo resolvessem se mexer? Deve
ser esse o escape do deserto gelado da humanidade. Se existir.
IMAGEM: http://4.bp.blogspot.com/-C7AMpVfj74w/TVlCtBr8dBI/AAAAAAAAAaA/Z31fk0pToa0/s1600/161524congestionamentoraimundo_pacco.jpg
Um comentário:
Que sejamos exceções.
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