Uns gostam muito, vivem a vida
mais abertos a qualquer absurdo, contanto que tire suas gargalhadas do dia.
Outros, mais certinhos, criticam a qualidade e preferem morrer frios a enrugar
a pele do rosto. Dicotomia. Isso é o humor, a cerveja gelada da sociedade
brasileira, cansada de tanto labutar e que precisa espairecer no fim da tarde.
Muitos não sabem beber, preferem
negar antes de sentir o cheiro. É um risco: garantir a integridade mental pela
privação da alegria instantânea. O humor é instantâneo, paliativo, um
paracetamol da vida. Dor de cabeça? Toma uma pílula e passa por hoje. Nada que
te obrigue a repensar no sentido da existência humana ou na cotação do real, o
humor não precisa ser ideológico. Basta fazer rir e pronto.
Basta? Fazer rir pode ser o
início, o fim ou o meio. Coisa séria. Talvez seja a caricatura a forma mais
legítima e libertadora de exorcizar toda e qualquer pedra no sapato, qualquer
irritação, qualquer dor de dente. Sacanear um presidente, mas não por sacanear
apenas. Isso é vazio, isso é o paliativo. Brincar com a verdade pode ser mais
sutil do que um monte de palavras cuspidas na televisão. Raiva não atinge,
agora tenta ser sarcástico...
Assim como muitos não sabem
beber, muitos bebem até demais. Exagero, barra forçada, que limites? Pra ser
engraçado, não precisa ser babaca. Inteligência, estratégia, tempo, vergonha na
cara e bastante autoconfiança, tudo isso é requisito de todo bom humorista.
Podemos rir de qualquer tropeção na rua, isso é fácil. Agora conseguir
conquistar milhões de seguidores com bordões criativos e diálogos bem
construídos, ah, isso não se acha na farmácia.
Dia desses, dois mestres nos
deixaram uma grande lição: Millôr e Chico nos ensinaram que banalidades não precisam
ser tratadas como tal, para serem engraçadas. A vida em si já é uma
tragicomédia, mas poucos conseguem traduzi-la ao extremo do bom gosto. Qualquer
um pode deixar sua plateia de espelhos feliz, aplaudindo seu talento. Basta
saber fazer.
Censura? Nunca. Quem pode parar
quem? Deixa ser assim, deixa ser. Profissionalismo não presume qualidade, e
vice versa. Humor amador não existe. Cara de pau, destreza, coragem, todos têm
guardadas. Liberdade de expressão. Liberdade de pensamento. Liberdade de
escolha. Não gostou desse texto? Passa pra outro. Não foi com a cara desse
rapaz? Fecha os olhos. Os incomodados que se mudem, já que agradar a todos deve
ser um saco. Que tal brincar de ser feliz?
IMAGEM: http://humortalha.com/blog/wp-content/uploads/2011/11/melhores-blogs-de-humor.jpg
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