Noite dessas, eu estava pensando.
Era uma besteira sem tamanho, sabe? Besteira mesmo, que só alguém bem inseguro
poderia levar a sério, uma coisa tão pequena, inacreditável até. Pois é, eu
estava pensando. Fui dormir pensando “vai passar, só preciso de uma boa noite
de sono”, mas a noite de sono não veio. Aquilo martelou, ecoou e me incomodou
tanto, mas tanto... Resolvi acordar e pagar pra ver. Me dei mal. Eu tinha
razão.
Hoje eu vivi com uma das piores
sensações, talvez a pior de todas que eu poderia sentir. O mundo pode não ter
culpa, mas para mim, não há outro vilão: eu me senti só. Abandonado mesmo, uma
criança jogada ao relento de uma noite fria, que só precisava de um cobertor e
um afago na cabeça. Que afago? Os habituais, aqueles que, de tão comuns, eu chegava
a ignorar quando me eram fartos. Hoje eu senti o peso do inevitável, o golpe da
solidão. Hoje eu me senti só.
Descobri, então, que tenho em mim
um outro sentimento, este mais invasivo, intruso, malvado e, (in)felizmente
secreto. Me descobri um possessivo. Possuir os outros, meus amigos, meus
queridos, a um certo ponto eu me doía aceitar, vejam só, que eles podiam – e
deviam – ser felizes em suas vidas. Eles têm vida, e eu não quis enxergar. Acho
que, de tanto querer bem, eu acabo os querendo demais.
É um desapego ligeiro, uma
ausência explicada, que me faz refletir sobre mim e sobre o que não posso
mudar. Nem devo. As pessoas têm suas identidades, e precisam ser mais elas.
Caramba, por que diabos então eu sou assim? Egoísta? Não torço contra a felicidade
dos meus amigos, que engataram um romance, conseguiram um emprego, tomaram
outros rumos na vida. Apenas, se pudesse, faria com que os nossos momentos
nunca se esgotassem.
Aquelas horas onde riamos como
antes, nos abraçávamos como antes e víamos a vida diferentes. Éramos
diferentes, e hoje estamos aqui. Repito: não quero o mal para vocês, nunca, eu
amo cada um. Apenas queria que o tempo voltasse atrás. Só quero o impossível. A
vida muda, as pessoas mudam, e eu ainda preciso me acostumar com o ter, ao invés
do possuir. Fico feliz por vocês todos, e digo que vou melhorar. Vocês nunca
saberão, por mais transparente que eu tente ser. Vocês só verão em mim o amigo
de sempre, que sempre está de braços abertos.
Isso não é uma despedida. Amanhã
a gente se vê outra vez.
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3 comentários:
Bem a minha cara! rs
Parabéns, parceiro!
Eis o meu exercício diário: lidar com a possessividade.
Escreve de um modo muito atrativo e intenso, adorei ;)
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