Talvez eu nunca tenha pensado
nisso, no dia final. Nada além das coroas de flores que, talvez, alguém
ofereça. Quem estaria ali, sobre meu corpo frio, pálido, chorando lágrimas
sinceras de uma perda realmente irreparável? Meus pais, deles eu nunca vou
duvidar. Nesta vida ou em outras, é incondicional o amor que nos sustenta e que
vem deles. Além, de onde pode chegar mais sinceridade?
Amigos. Quais? Nomenclaturas
simplificam, mas o instinto é o único que pode generalizar. Hoje eu sei quais
deles, com toda a certeza, sentiriam a dor da minha ausência. Aqueles que
comigo riram, comigo choraram. Amigos de verdade, daqueles que a gente divide
alegrias e a conta da pizzaria, daqueles que até reclamam, mas te emprestam o
carro no fim de semana. Amigos, daqueles que te xingam com carinho, brigam por
amor e conhecem os limites formais da irmandade, e sabem que já os cruzaram faz
tempo.
Tá, eu sei que mais uns e outros
vão aparecer, mas eu não faço questão que sofram. Ora, conhecidos eu tive
muitos, e logicamente não agradei a todos. Pros que guardam rancores,
infelizmente é tarde demais para recuperar. Será que eu quis? Será que eu soube
sempre quando machuquei alguém? Enfim, por respeito aos meus pais, talvez esses
apareçam. Outros podem se tocar que me perderam apenas quando me virem... Por
quê não antes, quando havia tempo?
Enquanto houve, eu fui feliz. Bem
acompanhado, diga-se de passagem. O saldo foi positivo, e elas concordam.
Prefiro acreditar na sinceridade delas, sabe como é, orgulho masculino. Quando
curti, amei, e quando resolvi amar, aí sim eu fui fundo. Conheci, aprendi, errei
tentando, tentei errando. Algumas eu tenho certeza que vão chorar por mim.
Umas, a vida toda, posso apostar. As que não forem, que me perdoem.
No fim da minha caminhada, eu
espero ter conquistado sinceridades, carinhos e confianças. Se eu ainda pudesse
sentir algo do lado de lá, eu iria satisfeito ao ver quantas pessoas me
seguiram, seus motivos, até mesmo se foram leais ou não. Acredito no que posso,
no que me convém, até o dia em que o amanhã não seja nada. Sim, eu quero saber
do meu legado, seja ele qual for. Quero saber quem vai rir, quem vai chorar,
quem vai me notar, nem que seja uma vez. A última vez.
2 comentários:
Não queira saber o que é morrer ou o que vai acontecer quando se for. A dor de quem fica é sempre maior, já dizia Rubem Braga - acrescento que não é só maior, como inimaginável; torna tudo (mágoas, tristezas, rancores... tudo!) menor, insignificante. Quem parte, não vai porque quer; quem fica, gostaria de, pelo menos mais uma vez, fazer o que não foi feito. E isso dói. Muito.
Thaís Braga
É cedo pra saber. E espero que demore muito, mas muito tempo para isso acontecer. Contente-se com a curiosidade até os próximos oitenta anos, amor.
Postar um comentário