Eu olho pras janelas, não vejo
você. Sinto as nuvens distantes, o sol fraco, quase oculto pela massa
acinzentada dos meus vagos sonhos solitários. Enquanto a noite chega, lembro
que a lua, dessa vez, não vem com ela. Mais uma vez. Você e seu luar, nenhum
outro satélite brilha tanto quanto sua aura. Mas você não vem.
Tento ler romances e não te
encontro nas entrelinhas. Tento ver filmes, mas o roteiro nunca é você. Procuro
jornais, revistas, nada de te sentir. Nem mesmo as fotos conseguem me levar ao
que fomos, ao que guardamos no papel. As lembranças, mesmo ainda fortes,
começam a se apagar, meu arquivo vai se perdendo, dia a dia, no mar marasmo da
solidão.
Frio. Sereno e frio. Escuro e
fundo este infinito, minha vida sem você. Sem teus passos marcados no chão, eu
me perco, não sigo. Não vivo. Viro pedra sem polimento, vaso sem flor, lâmpada
apagada. O tempo vai passando e a madrugada invade meus pensamentos e minhas
palavras, cheias de saudade do que um dia foi o nosso lar, nosso coração.
Continuo a olhar pela janela do
meu quarto, e ainda não vejo você. Não ouço o barulho das chaves, quando você
abria a porta, tentando não estragar a surpresa. Nada mais me surpreende.
Quando a campainha toca, nem me importa mais saber quem é. Não é você. Esses
raios de sol, que ensaiam mais uma alvorada, nem eles me acordam mais. Eu os
vejo todos os dias. Vejo os fantasmas, vejo os restos de mim mesmo. Menos você.
Já clareou. Mais um dia sem seu
beijo matinal, sem seus lábios me dizendo “bom dia”, sem seus olhos me sorrindo
alegres. Hora de levantar, acordar de um sono que não tenho mais, para tentar
viver uma vida que não tenho mais. Hora de sair e olhar para o mundo, respirar,
secar as lágrimas e perguntar, gritando por dentro: cadê você?
IMAGEM: http://migre.me/869Im