Essas festas da high society...
Todos se preparam com semanas de antecedência, esperando mais uma “noite do
ano” na cidade. Ser convidado é honra, fazer parte é luxo. Quem gostaria de
perder um evento de tamanho garbo, com gente bonita e elegante. Com seus ternos
e vestidos alugados, os presentes trazem no linguajar um refino admirável, e
capricham na finesse. Salve simpatia!
Chegam ao salão de recepções como
se estivessem no Kodak Theatre. Seguranças por todo o lado, cerimonialistas,
boa noite, boa noite. Câmeras, fotos, vídeos, seus primeiros passos registrados
para sempre. Afinal, você é um dos poucos homenageados com o convite, com a
chance de estar lá. Você é a elite. Sinta o gosto, seja leve e sorria. Não
pergunte nada. Apenas sorria.
A aniversariante lhe aguarda, ao
lado da família, orgulhosa pela grande festa. Quem disse que ela precisa saber
quem você é? O inverso também se aplica. Ora, de quantos dali você realmente se
lembra? Não interessa. Fale com todo mundo, seja polido, finja ser popular,
faça o outro pensar o mesmo. Aliás, nada mais apropriado para uma ocasião como
essas do que parecer qualquer coisa.
Requinte é isso! Aqueles mesmos
quitutes regados a muito refrigerante de segunda e molho rosé. Como dispensar o
camarão empanado, o rissole de carne e aqueles canapés azedinhos. Confesso que
dá vontade de levar muitos para casa, e que até acho fazer parte do jogo
levá-los. Na bolsa da mãe, nos bolsos do paletó, um rega-bofes de primeira.
Bebidas variadas, tios variados.
A música é um caso a parte. Festa
jovem,com hits anacrônicos, de cinco anos atrás. Parece que você voltou uns
cinco anos no tempo, e voltou a curtir músicas do tempo em que você era jovem.
Mas todos dançam, curtem, se jogam na pista de dança. Inclusive seus pais.
ABBA, Bee Gees e Gloria Gaynor fazem a festa dos mais velhos, enquanto os seus
rebentos exercitam seus dotes de sedução pré-adolescente na boate, obviamente
longe de papai e mamãe, que nem devem estar ligando tanto assim para eles.
O tempo passa, a valsa termina.
Os meninos, os padrinhos, a chuva de emoções engarrafadas de quem vê mais do
mesmo. Mas depois das homenagens mil, cafonices e máscaras são deixadas sobre a
mesa. Sirvam-se! Damas da alta sociedade se transformam em leoas famintas,
enquanto os homens constroem prédios de filé e fagia nos pratos rasos da
infâmia. Comem, se empapuçam com tanta fartura. Falta verdade na compostura
artificial de quem só quer se fartar com tanta comida boa.
E depois de tanto agito, entrando
pela madrugada, cercada de estrelas, flashes e encenações, é hora de ir. Depois
de sentir o aroma entorpecente da burguesia elitista, tão perto e tão longe,
você volta para sua casa, como se nada tivesse acontecido. Na segunda-feira,
você devolve as roupas alugadas, olhará as fotos da festa com certa nostalgia,
e só. Na terça-feira, você já esqueceu. E tudo volta a ser a sua vida de antes.
Um brinde à realidade!
IMAGEM: http://4.bp.blogspot.com/-DVsEUlxmKtY/TqsFZkfdcxI/AAAAAAAAAbQ/ToZjG4k4BIc/s400/champagne-espumantes-festas-bebida.jpg
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