Meu nome é Alberto Araújo, tenho
35 anos, sou dono de um restaurante conceituado na cidade, e um dos meus
maiores prazeres é ver meus clientes satisfeitos, de preferência calados, já
que o melhor elogio para um chef é o silêncio de quem prova seus pratos. Eu
comecei a trabalhar muito cedo, estudei Gastronomia às custas do meu esforço,
me aperfeiçoei, cheguei onde cheguei. E o que me lembro até hoje como primeira
inspiração para seguir esse caminho é um hábito que marcou os anos mais tenros
da minha vida.
Muito antes de eu ser quem sou
hoje, eu ainda era um menino que brincava de carrinhos e bonecos de
super-heróis, e morava em uma casa simples, nem pobre, nem rica, mas boa.
Éramos eu, meus dois irmãos, um casal, e meus pais, que sempre foram uma
família feliz. Comum, até. Nós sempre tivemos regrinhas de conduta, que toda
família tem, porém uma dessas nem era uma regra. Era um programa dos mais
esperados, onde brigas eram solucionadas, boas notícias eram dadas, e a conversa
da semana era posta em dia.
Meu pai era empregado em uma
montadora, trabalhava de segunda à sexta, chegava cansado em casa, sem muito
tempo para falar com os filhos. Minha mãe, dona-de-casa, sempre foi exemplo de
dedicação ao lar e à família. Meus irmãos mais novos, Lucinha e Dudu, faziam da
nossa casa uma festa. Vez ou outra nossos parentes apareciam lá em casa para
comer aquele churrasquinho, aquela lasanha de mãe, e para falar mal de alguém.
Ainda mais se fosse naquele dia da semana, onde todos se reuniam.
O cardápio era maravilhoso, meus
pais cozinhavam como ninguém. Minha raiz, minha inspiração. Comecei a vê-los
praticando o dom da culinária em casa, sentindo os cheiros e os gostos. Nascia
um chef. Comecei fazendo uns bicos como faz-tudo, para conseguir minha primeira
grana. Fui professor de português, dava aulas particulares e assim fui me
bancando. Hoje, se eu sou um profissional respeitado, se eu consigo ver nos
meus clientes aquele Beto, aquele garoto, encantado pelo paladar, pelas
descobertas, aquele sorriso de satisfação a cada mordida, a cada gole, se eu
sou quem sou, eu devo àquele bendito hábito semanal.
Quando recebo famílias no meu
restaurante, aos domingos, para almoçar, eu sorrio involuntariamente. Não
apenas pelo faturamento. Aliás, isso nem é tão importante assim. Minha alegria
é ver que a tradição não acaba, mesmo com os novos tempos, quando mal se tem
tempo para o outro. Sabe, se você que está lendo este texto agora pode, não
deixa a chance passar. Porque às vezes, tudo o que você precisa é de mais
tempo, de mais família. De mais um velho almoço de domingo.
IMAGEM: http://4.bp.blogspot.com/_Vgjq_uuN44s/Swk2s9sFTDI/AAAAAAAAGfM/bzD7V9vwKzM/s400/almo%C3%A7o+em+familia.jpg
Um comentário:
Adorei o texto. Essas situações em família, de diálogo, de compartilhamento de impressões de mundo, conversinhas bobas e engraçadas, ou momento filosóficos mais profundos, são ótimos. Acho que vou tentar construir um almoço de domingo essa semana. (:
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