Em uma novela, qual dos
personagens ganha mais a simpatia do público? O mocinho, símbolo de boa
conduta, portador de bons valores e sem nenhum arranhão em sua imagem polida?
Ou o vilão, maquiavélico, dotado de cargas pesadas de cinismo, falsidade e
inveja, capazes de tudo para conseguir o que deseja? A resposta é óbvia, e você
sabe disso. Mas você sabe o por quê? É fato, o que dá mais audiência, e não
apenas em obras de ficção, é o tal do bom malandro, que nos leva na lábia, e de
tão encantados, nós, público, esquecemos que eles são vorazes, impiedosos. São
maus.
Mas quem se importa? Já nos
acostumamos, com absurda passividade, a conviver com a sacanagem, com as
falcatruas e os truques de quem passa por cima de tudo e de todos,
indistintamente, para conseguir o que quer. Porém, criticar chega a ser
hipócrita, não por você ou eu sermos pessoas ruins. Mas é a lei da vida. Thomas
Hobbes não mentiu quando disse que somos os lobos de nós mesmos.
Selvageria na primeira página,
sangue jorrado por nada. Qualquer espécie de canibal nunca pode ser comparada
ao genocídio humano que presenciamos. Justo nós, inteligentes, os donos da
razão, acabamos sendo vítimas de nossa própria arrogância. Uma pessoa que mata
outra não o faz para sobrevivência, e sim para mostrar que é superior. O fogo
das armas engrandece o “vencedor” da batalha. Homicídios que chocam, não chocam
mais. E os leões acabam sendo taxados de brutos... Vindo de nós, isto até
parece elogio.
O poder vicia, tanto quanto
brilha aos olhos da ganância. Quem não quer mandar, sentir o gosto da
supremacia, dar a última palavra? Destes, muitos preferem escolher o caminho
mais fácil (entenda-se: ilícito) para alcançar o topo. Nesta escalada, cabeças
são pisadas, vidas são destruídas, e tudo por uma satisfação egoísta, pelo
deleite solitário, pelo sabor torpe da trapaça realizada. Saber que existe o
próximo? Pra quê? Se os bombons são bons, ninguém divide. Só querem mais, e
mais. E mais. O poder vicia.
Mania de brasileiro, dar um
jeitinho para tudo nem sempre serve ao bem. Se o juiz não marca o pênalti que
daria o título ao seu time, o que o atacante faz? Simula. As máscaras que
iludem, enganam. Enganam a quem? A quem usa? Alguns consideram isso um jeito
maroto de ser feliz. Mas tudo isso não passa de eufemismo para a pura esperteza,
no pior sentido da palavra. Ser correto é ser otário. Ser correto é raridade,
daquelas que arrancam suspiros de surpresa. “Meu Deus, você nunca roubou
chocolate no supermercado?”. Difícil acreditar.
Em quem acreditar, nesse lugar
onde é mais comum a corrupção do que a lisura? Roubam, matam, mentem. O
tragicômico disso tudo é que o homem acaba atingindo a outro, e por tabela, a
si mesmo. A mesma raça. E não por necessidades biológicas, e sim por desvios de
caráter, falhas de conduta e falta de inteligência. Homo sapiens. Tanto sabemos,
tanto nos destruímos. Guerras que matam milhares, milhões, apenas pelo controle
de gente. Apenas para ser mais, para mostrar suas penas, as nações que brigam
feito pavões para provar que uma é mais vistosa que a outra. Guerras sem fim.
Um dia todos eram um só, iguais,
em suas tribos, buscando apenas viver. Não se machucavam, não se agrediam.
Apenas queriam viver. Até chegar a fome. Hoje em dia a fome não é apenas de
comida. Ganância, egoísmo, umbigos maiores que o mundo. A nossa fome é de
poder, de querer, de conquistar. O lado de lá nunca faz diferença... Mesmo ele
sendo o lado de cá. Auto-destrutivos, nós, humanos, insistimos em atacar o
sistema em que nós mesmos vivemos. É como quebrar as paredes de nossa própria casa,
por dentro. Em resumo, a cada dia eu reforço a certeza de que Hobbes tinha
razão.
IMAGEM: http://1.bp.blogspot.com/_8Qc2BkZk7_M/TQPlMC4YzNI/AAAAAAAAAl0/uGpV9hOPjzc/s400/alcateia-2.jpg
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